"UM DIA DE CÃO" - DEU O QUE FALAR NO CORREIO DE DOMINGO - CONFIRA!

Fiquei muito feliz ao receber em meu email uma mensagem do ciclista Andre Decanha que me encaminhou o resultado do texto que escrevi "Um Dia de Cão". O texto serviu de inspiração para Wilson Teixeira, jornalista, ciclista membro dos Coroas do Cerrado... Confira abaixo:

Um dia de cão

Artigo de Wilson Teixeira Soares - jornalista, ciclista, membro do grupo Coroas do Cerrado, conselheiro da Ong Rodas da Paz. 

Publicado no dia 22 de abril de 2012 - Correio Braziliense - Editoria de Opinião

Sábado 14 de abril. Um dia de cão, como definiu o blogueiro que postou em seu blog, Pedal Digital, um testemunho cruel da realidade enfrentada pelos que se dispõem a pedalar pelas vias públicas do DF. Ipsis litteris: " Duas pessoas completamente diferentes, dois destinos também diferentes e dois resultados ruins em um mesmo dia. Daniel é um ciclista canadense que mora na California. Veio passar uma temporada no Brasil. Desembarcou na capital federal e foi treinar pelas ruas largas da cidade. Quando rodava pela ML, foi surpreendido por uns caras que o mandaram parar. Não entendeu nada e não parou. Resultado: os bandidos efetuaram vários disparos contra ele. Por muita sorte nenhum dos disparos atingiu Daniel. Nada mal para o primeiro em Brasília, você não acha?"

Não acha? Achou barato. O relato continua: "Mais cedo, do outro lado da cidade, Fernando, advogado, deixou em casa a esposa grávida para treinar com o pelotão da UNB. Quando descia o Eixo Monumental, aproveitou a faixa da esquerda, cercada por cones onde era proibido o trânsito de carros em virtude da montagem da  estrutura do vôlei de praia. Os  cones, contudo, não foram suficientes para protegê-lo de um taxista, que em manobra brusca desviou dos cones, invadiu a área cercada e vitimou Fernando. Caído no asfalto, o ciclista, machucado, esperou a chegada da ambulância por 20 minutos". 

A estupidez, a ignorância e a violência são manifestações corriqueiras por parte de uma expressiva quantidade de motoristas. Não importa de que cidade. Por acreditarem, em decorrência de um desvio de caráter qualquer, que ruas, avenidas e estradas são propriedades privadas dos veículos automotores. Não são. Vias públicas são um bem comum. Onde todos, a pé, sobre a bicicleta, deslizando em skates ou em patins, aboletados atrás de volantes, têm o direito de trafegar. E onde todos, também, deveriam ter a disposição de  conviver civilizadamente. 

O que determina o grau de incivilidade dos que, momentaneamente travestidos de motoristas, são capazes, por ignorância, estupidez ou violência, de arremeter veículos motorizados contra ciclistas? Ou contra pedestres? O que os leva, ao constatarem uma pessoa pedalando em via pública, a desrespeitar a legislação de trânsito, que determina reduzir a marcha e afastar-se do ciclista por ao menos 1,5 metro? Essa é uma pergunta que cabe a especialistas nos desvãos da mente humana responder. Mas enquanto a resposta precisa, matemática, definitiva, não é oferecida, compete ao Estado, a quem o administra, tomar as providências adequadas para acabar com uma realidade que causa de escoriações a mortes.

Indignado, justamente indignado, o blogueiro prossegue: "Parei para refletir e lembrei que teremos uma Copa do Mundo de Futebol e também hospedaremos os Jogos Olímpicos de 2016, o evento esportivo mais importante do planeta. Acontece que o país está repleto de bandidos de todos os gêneros e classes, que combinam com uma população mal educada e sem vergonha. Daí, vem o dizer: ´Cada um tem o Governo que merece´. Isso não é sem motivo. Afinal, ´nós´elegemos a cada quatro anos os nossos representantes, quase sempre acreditando em propostas utópicas ou que beneficiem apenas o nosso próprio umbigo e esquecemos do bem comum". 

A realidade dos que pedalam é sempre arriscada. Trafegar de bicicleta é, invariavelmente, um risco. Para não o ser, competiria ao Estado realizar, de maneira maciça, campanhas de esclarecimento. De educação. E, mais importante, fiscalizar com rigor, com assiduidade. Com um objetivo: punir os motoristas que se dão ao cinismo de ameaçar os que pedalam. Como acontece na Europa, por exemplo, onde os motoristas, ao divisarem alguém a pedalar, acautelam-se, conscientes de que se o vitimarem sofrerão punições exemplares. No Brasil, em casos extremos, tudo se resolve - de fato, nada se resolve - com o pagamento de cestas básicas ou penas assemelhadas. Sempre brandas. Ou inexistente, a depender da condição social do atropelador.

Como conclui, em sua santa ira, o blogueiro: "Em cima da bicicleta você não é policial, bombeiro, juiz, empresário, professor, cientista, repórter, presidente, deputado... Você não é coisa alguma! Ou melhor, você é só mais um cara que atrapalha o trânsito. É verdade, a culpa da cidade estar essa baderna completa é minha e sua também! Não somos capazes de nos unirmos para realizar um evento em prol do respeito a vida. Somos mais de 20 mil bicicletas em Brasília e quando muito 350 ciclistas aparecem numa manifestação. É muito pouco, ou melhor, é do tamanho da nossa união... Fica a reflexão". A provocação está formulada, posta à mesa. Resta, agora, aos ciclistas de todos os sábados trocarem um dia de "cospe sangue" por uma manifestação. Uma manifestação que provoque, incomode e que não seja esquecida pelos que candidataram-se, de livre e espontânea vontade, a administrar o Distrito Federal.

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