SPRINT FINAL COM MARCELO IANINI

Sprint final é o bloco do blog que vai pegar você a qualquer momento, hoje é com Marcelo Ianini

Marcelo Ianini é atleta Ciclo Race, mas está afastado do ciclismo por motivos de ordem pessoal e com isso quem perde somos todos nós ciclistas, uma vez que ele tem grande conhecimento na área adquirido com muito treino e estudo, inclusive fora do país.

Além de ciclista, Marcelo é treinador de alguns dos principais ciclistas da cidade, função esta que exerce com competência vista a olho nú nos resultados de seus atletas.

Fiz algumas perguntas a ele que foram prontamente respondidas, sem cerimônia e frescura. Então vamos lá!

PD - Quanto tempo um atleta elite tem que treinar por dia para ser um elite nível nacional?

MI - Média de três horas diárias com o treino físico. Varia entre duas a seis de treino em cima da bicicleta. Para saber o tempo total dedicado ao esporte, acrescente mais duas horas para vestir-se, banhar, preparar o equipamento.

PD - Qual o investimento médio mensal?

MI - Hummmm.... vejamos: uma corrente e um par de pneus bons duram aproximadamente três meses para quem roda na Elite. Digamos 150 reais por mês em manutenção de equipamento. Somem-se: treinador (de 100 a 200 reais), academia (100 reais), massagista (100 reais), inscrições (100 reais), viagens (500 reais). Acho que por volta de mil reais por mês.

PD - Quais as atividades extras e de complemento do treino?

MI - Descanso, massagem, fisioterapia (quando necessário), musculação, alimentar-se bem, exercícios psicológicos, acompanhamento médico.

PD - Em sua época de atleta, quanto tempo você treinava por dia e o que conseguiu de títulos?

MI - Média de três horas diárias. Treinava de duas a seis horas por dia, seis vezes por semana. Fazia musculação três meses (novembro, dezembro e janeiro). Além do treino, tinha que dormir mais, procurava tirar uma soneca vespertina de até uma hora.Consegui ser bicampeão brasileiro sub-23 em 1999 e 2000, seleção brasileira, 4o lugar no pan-americano de CRI sub-23, 3o lugar no brasileiro de CRI elite 2002, liderei o ranking elite por dois meses em 2002.

PD - Qual a sua visão sobre o ciclismo hoje no DF master e elite?

MI - O Master está surpreendentemente bom, mas está se fechando em si próprio. Em nível nacional está excelente, mas em nível internacional estamos fracos. Tenho convicção plena de que os atletas daqui só rendem até 80% de seu potencial, poderiam ser bem melhores. É a melhor Master nacional, daí parece que acham que não precisam viajar e os outros que têm que vir aqui correr. Perdem as chances de se aperfeiçoarem nas corridas de mais alto nível. Recomendo aos Masteres viajarem para competir no estrangeiro. Parabenizo os que viajam para Sul-Americanos, Pan-Americanos, Mundial. Tenho certeza de que vocês voltam com outra perspectiva, muito mais cientes do quanto estamos longe do máximo potencial desportivo.A Elite está abandonada. Temos alguns protagonistas a nível regional, mas nenhum a nível nacional. Parece que o sonho de um Elite é envelhecer e se tornar Master, pois há mais competitividade nessa categoria que na Elite! Os atletas devem viajar para as grandes corridas nacionais no eixo São Paulo-Sul, aprender muito sobre competição. O nível hoje é insatisfatório. Quem foram os últimos ciclistas expressivos a nível nacional? O Morcegão despontou em 2001. E depois dele? Quem veio?

PD - Você acha que a categoria master tem alguma culpa na decadência do ciclismo elite?

MI - Não. Tem culpa de se fechar, insular. Acho que a culpa da Elite decorre da falta de perspectiva de um atleta. Imaginemos um atleta de 17 anos que está progredindo no ciclismo. Contra o esporte, concorrem os estudos, a família, as festas, as viagens. O quê o esporte oferece à ele? Quase nada, só satisfação pessoal. Só que isso não enche a barriga. Tive de parar para trabalhar e ser "alguém na vida". O esporte, do ponto de vista de qualquer parente ou amigo meu, só me "atrasou" na vida e tive de correr atrás do prejuízo. Os 600 reais por mês que eu conseguia competindo não eram suficientes. E olha que eu era o segundo mais remunerado ciclista elite de Brasília, atrás apenas do Morcegão. Acho que o terceiro não conseguia a metade do que eu ganhava. Falta hoje alguma forma de organização, seja uma equipe, clube ou associação que queira fomentar o ciclismo de elite. Primeiramente orientando-os, em especial os evidenciando na mídia. Deverá também instigar os atletas a participarem de competições de nível nacional, a treinarem melhor, a se superarem e pararem de ficar brigando no quintal contra os próprios conterrâneos. Que me perdoem, mas a última equipe elite de Brasília acabou há 10 anos. E não me venham com desculpa de falta de apoio, pois nesta equipe o apoio era muito menor que o de muitas equipes atuais, sobrevivia mais das intenções dos atletas que qualquer patrocinador. Vejo equipes de bicicletarias em que os atletas ganham reposição de equipamento, manutenção, uniforme, inscrições, apoio e até mesmo alguma remuneração, mas os atletas não correspondem ao investimento. Talvez seja melhor as equipes investirem mais em menos atletas, patrocinando viagens, que juntar 20 caras e patrocinar inscrições em corridas no DF. Devemos cobrar desempenho dos atletas Elite na medida de seu investimento.As equipes de Brasília hoje vivem para a Master, na qual os atletas são quase todos trabalhadores e podem pagar por suas bicicletas e viagens. Na Elite, para ser competitivo, o atleta tem que treinar muito e não dispõe de tempo para ter um emprego que o remunere satisfatoriamente. Tem que ganhar dinheiro no esporte, mas 300 reais por mês não bastam. O pior é que, hoje, não sei se temos atleta Elite que corresponda a esse valor.

Esse foi Marcelo Ianini, quem será o próximo?

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