JUNINHO NO CORREIO MAIS UMA VEZ

Alegrias e decepções de um campeão*

Dono de três títulos locais, Sydnei Júnior relembra momentos difíceis na carreira, afirma que a categoria da elite está decadente na capital e adianta que pretende iniciar um projeto de renovação com crianças

Marcelo Ferreira/CB/D.A Press - 15/10/09

Quem é ele
Nome: Sidney Júnior
Data de nascimento: 20 de outubro de 1979
Local: Brasilia
Peso: 63kg
Altura: 1,70m
Especialidade: sprintista e passista
Principais resultados:
» tricampeão brasiliense
» 5º no Campeonato Brasileiro, em 1998
» 7º lugar no Campeonato Brasileiro, em 2004

Sydnei Júnior é o mais novo tricampeão candango. Ele ganhou o Campeonato Brasiliense de Ciclismo no domingo passado, em uma competição que contou com apenas 14 competidores na categoria elite, a principal.

Apesar da alegria da conquista, Sydnei, 30 anos completados ontem, voltou no tempo e lembrou que o ciclismo já lhe trouxe muitas decepções. Brasiliense, tendo vivido dos 11 anos aos 16 anos no interior de Minas Gerais, ele contou que as tristezas foram tão grandes que ficou quase cinco anos afastado da bicicleta. Talvez por isso, sua última conquista tenha chegado de forma tão especial para ele.

“Fiz a minha primeira corrida júnior aos 18 anos e ganhei. Em 1998, uma pessoa prometeu que ia me apoiar, mas não cumpriu. Foi uma decepção grande e resolvi abandonar tudo para estudar e trabalhar. Eu tinha planos como atleta que não deram certo”, lamentou.

Cinco ano se passaram. E só em 2003 ele voltou a pedalar. Os treinos renderam frutos e, com a equipe Instituto Candango, ficou em 10º lugar no ranking brasileiro por equipes, em 2006. Segundo Sydnei, foi um resultado histórico para a Capital Federal. “Com uma verba de cerca de R$ 30 mil por ano, mostramos a força de vontade e a competência dos ciclistas brasilienses. Para você ter ideia, São Paulo tinha uma verba de uns R$300 mil”, orgulha-se. Depois disso, Sydnei disse que recebeu propostas para mudar-se para São Paulo mas recusou, pois queria concluir o curso de administração.

Mesmo com todo o sucesso, a equipe acabou sendo desfeita. E depois de passar 2007 competindo em provas somente em Brasília e 2008 apenas treinando, Sydnei quase encerrou a carreira. “Não tinha mais vontade de competir. Aqui em Brasília falta apoio e existe uma pressão enorme para que, aos 30 anos, o atleta passe para a categoria master. Não existe renovação e estão acabando com a principal categoria do ciclismo, a elite”, desabafou.

Por amor ao esporte e com a esperança de ajudar a modalidade a crescer, Sydnei tomou fôlego e resolveu continuar. A conquista do tricampeonato este ano soou como um recado. “Várias pessoas falavam que eu estava no fim da minha carreira. Vou continuar na elite. Sempre achei um absurdo o atleta correr na master antes dos 35 anos. Acho que provei que estou certo.”

Tipos de ciclista

» Escalador (ou montanheiro): tem a capacidade de durar mais tempo sozinho fazendo força

» Sprintista (velocista): especialista em chegadas fortes

» Passista (ou contra relogista): é capaz de manter um ritmo de competição por um período prolongado

» Gregário: sacrifica seu desempenho para ajudar a equipe

100km, Copa da República e trabalho com jovens

O foco de Sydnei Júnior, agora, são os 100km de Brasília, disputada em 15 de novembro, na Esplanada dos Ministérios. “É a prova mais importante do ano porque está em jogo uma pontuação muito alta. Estou com bastante esperança de andar bem e subir ao pódio”, anima-se.

Em dezembro, o ciclista candango enfrenta mais uma disputa: a Copa da República, também na capital do país. “É uma prova show, que dura cerca de 30 minutos, em um ritmo alucinante”, descreve. Para 2010, entretanto, os planos são bem maiores. Sydnei pretende iniciar um projeto com crianças para trabalhar a renovação do ciclismo brasileiro.

Receita do sucesso

O professor de educação física Gustavo Santiago Passos acompanha Sidney Junior há aproximadamente quatro anos. De acordo com ele, existem dois tipos de treinamento: o de base e o de polimento. O primeiro é trabalhado por Gustavo no início do ano. “Fazemos um volume mais alto e o atleta chega a treinar de quatro a sete horas por dia, com um dia de descanso na semana.”

As competições que o ciclista pretende participar são definidas também no começo do ano. Próximo da data da prova, a característica do treino muda. “A intensidade passa a ser mais forte e o volume menor, cerca de duas ou três horas diárias. O objetivo é aumentar a potência, trabalhar a explosão, sem perder a resistência. É um treino para lapidar o atleta”, detalhou o treinador. Contudo, como cada prova tem uma característica, podendo ser de resistência ou explosão, às vezes é necessário algum ajuste.

Até agora, Juninho, além de vencer o Brasiliense em 2009, parece saber bem como utilizar a mídia em prol do esporte. E agora, a culpa da decadência do ciclismo elite é da categoria master ou da falta de novos atletas? O que é ser atleta da categoria elite?

* Matéria retirada do Jornal Correio Braziliense de 22/10/2009. http://www.correiobraziliense.com.br/

Editor da Matéria no Correio: Ugo Braga

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